Dopamina e Parkinson
Cientistas portugueses e norte-americanos revelam pistas moleculares
O estudo foi desenvolvido na Harvard Medical School (Estados Unidos) e no Instituto de Medicina Molecular, em Lisboa, e contou com a colaboração de investigadores portugueses, norte-americanos e alemães.
A doença de Parkinson caracteriza-se pela degeneração e morte de neurónios produtores de dopamina, numa região do cérebro, a substancia nigra.
Apesar de se desconhecerem ainda aspectos importantes dos mecanismos moleculares responsáveis pela doença, sabe-se que na sua base está a formação de agregados de proteínas dentro dos neurónios, nomeadamente, de uma chamada alfa-sinucleína.
Em doentes de Parkinson, a alfa-sinucleína adopta uma forma alterada,
que provoca a sua agregação em aglomerados tóxicos para as células. O
estudo agora publicado vem mostrar que as alterações sofridas pela
proteína podem ser induzidas pela dopamina, sugerindo o seu papel na
formação dos agregados de proteína característicos da doença.
A
dopamina é um estimulante do sistema nervoso central, percursor da
adrenalina e noradrenalina, e está também envolvida na dependência
psicológica a vários vícios. No sistema motor, desempenha também um
papel fundamental.
Os resultados publicados fornecem também uma possível explicação para
observações anteriores, que revelaram que os neurónios
produtores/receptores deste estimulante são mais vulneráveis à morte
celular – característica da doença de Parkinson.
Agregados proteicos
“O nosso trabalho sugere que a vulnerabilidade dos neurónios na
doença de Parkinson esteja relacionada com a capacidade da dopamina de
favorecer formas de alfa-sinucleína que levam ao aparecimento de
agregados proteicos”, esclarece Tiago Fleming Outeiro, primeiro autor e correspondente do estudo, investigador do Instituto de Medicina Molecular e sub-director do «Ciência Hoje».
Parkinson é uma doença neurodegenerativa que atinge actualmente mais de
seis milhões de pessoas em todo o mundo. Em Portugal, afecta já mais de
20 mil pessoas.
Manifesta-se habitualmente a partir dos 60 anos, havendo, no entanto,
cinco a dez por cento de casos em que os sintomas aparecem aos 40 anos
ou mais cedo. Os sintomas mais evidentes são os tremores, a lentidão de
movimentos, problemas de equilíbrio e a rigidez dos membros.